Um abraço, volta-e-meia,
É tudo que se precisa
Pr’aplacar a dor do peito,
Suavemente, tal qual brisa
Que, mansinha, se aprochega,
Leva embora o desconforto,
Deixa a alma em aconchego
Como um barco junto ao porto.
Mas se perto não estamos,
Distanciados pela vida,
Como, então, nos abraçamos
Como quando em despedidas?
Se, finitos, nossos braços
Se estendem ‘té os dedos,
De que jeito, pelo espaço,
Consolar irão dos medos?
Vem a escrita ao encontro,
Pra suprir-nos este anseio
D’enfrentar alheios monstros
Transformando maus receios!
Na palavra bem pensada,
Acalento há a mente
Que, de esforços, mui cansada
Se encontra de repente
Por razões às vezes simples –
Tantas vezes obscuras…
Mas palavra amiga limpa
A visão qu’em vão procura
Dar sentido aos devaneios
Que a imaginação constrói
Para achar se por um meio
Acha o qu’ao sonho corrói
Que, pois, é a sanidade
E a loucura se não jeitos
De sofrer de ingenuidade
Diante de seus receios?
Vozes de nossa cabeça
Agravam-nos a miopia
Distorcendo o que pareça
Que na vida principia
E a ideia ingênua prende
Nosso sono em forte corda;
Como vamos, se em correntes,
Ver o mal que bate à porta?
Salvar-nos-á a perspectiva
Bem forjada em mente alheia;
Pois, do amigo, a mente ativa
Romperá nossas correias!
Sendo assim, não silencie
Se teu peito muito sofre
Que tu’alma pronuncie
Qual a dor que lhe consome…
Se é verdade qu’um abraço
A distância inviabiliza, o
Ouvido amigo é bom laço
Que ata o mal e o cicatriza!
Nunca deixe, eu te peço,
De abrir-te fraternalmente
Com tal rogo me despeço
Pois prezo por tua mente.
Tê coragem: lê a face
De quem silêncio fizer
Fortemente, então, o abrace,
Ainda qu’em prosa e verso!
Em virtude do aniversário duma amiga., a quem a distância separa de abraços frequentes, mas, pela tecnologia, não nos separa de palavras amigas. O título é uma brincadeira com a expressão “versos rimados” e a palavra “abraço”.
A imagem do topo é "Abraço Outonal" de Leonid Afremov, e não detenho nenhum direito autoral sob ela.