O tempo é moeda da vida.
Com ele se gasta a saúde e o trabalho, com
as coisas e as pessoas que há no mundo.
Contudo, ele não dá o preço intrínseco
das coisas em si, nem dos amados,
pois nem sempre e diretamente, gastamos
com outro o tempo de que dispomos.
Investimo-lo em nós e nos outros,
para adquirir moedas perecíveis, tangíveis;
gastamos tempo agora para ter tempo depois;
Frequentemente, gastamos o tempo que não temos
com decisões que nos fazem perder tempo.
Mas o tempo também é pintura;
quadro pintado à vida; texturizado de memórias,
às vezes, distorcidas; por vezes esquecidas; muitas, obscuras.
A frente ou atrás, tem baixa nitidez, pois, qual bruma,
enuviados são o amanhã e o ontem.
Mas há contraste, das cores do peito, das festas,
dos lutos, dos penhascos e lutas.
Lentes da mente que turvam o olhar
e corroem a moeda etérea…
Sobre uma cômoda, diante deste quadro,
paira uma pilha dessas moedas;
Uma menina as contempla, curiosa e pesarosa.
São suas, as moedas e o quadro; o que ela vê?
Vê as cores de seu peito; os tons de seus medos;
as matizes de seus risos; as texturas de sua ira;
a nuance de suas lágrimas.
Penetra aquelas moedas cintilantes, cheias de valor;
mira o quadro, contempla-o como quem,
estuda o balanço da empresa.
E o que ela faz?
Ela ri,
com lágrimas nos olhos…
Lembra da mulher que a gerou e já se foi;
lembra de seu homem, já grisalho, que sempre esteve ali;
lembra das pétalas que de si brotaram, orgulhosa.
Assim, sai a menina de casa; com os bolsos cheios;
satisfeita, porque rica.
Rica, porque sabe o valor das moedas que carrega;
rica pelos gastos que já fez durante a vida.
Escrito em virtude do aniversário de minha irmã.