Donde vem aquele traço,
Que nos marca persistente,
Que revela qu’é a gente
E com quem nós temos laço?
Como chuva, sem início,
Do ido longínquo provém,
Repete-se num vaivém,
Qual verão em seu solstício…
Se os povos, porém, de outrora,
Aos montes atribuíram –
Belamente o intuíram –
O berço d’água e d’aurora,
Tomo também liberdade
De ver nos montes raiz
Dum elo que tão feliz
Te deixa se ele t’invade…
Mística nuvem, na serra,
Um dia torrencialmente
Choveu formando correntes;
Veias de vida na terra:
Córregos d’ouro na fronte
Alva da gente alemã
Aos poucos viravam cãs
Devido a lida nos montes.
Tal gente gerou seus filhos
Que partiram d’além-mar
Para aqui seus grãos plantar,
Nas matas picando trilhos.
Longe daquelas montanhas,
Escoam, hoje, cingindo
Ombros, num veio infindo,
Madeixas loiro-castanhas.
Pega teu filho no colo
Leia, em seus fios, a história
De teu povo, de árdua glória
Eternizada no solo…
Sente os cabelos dourados,
Regatos de rios remotos,
Grisalhos na cã e nas fotos
De muitos ranchos cansados.
Netos e filhos da enxada,
Do grão brotado do arado,
Ouvis, talvez, marejado
Palavras, assim, lavradas:
Lembrai, na letra e nos dedos:
Estes fios em vosso cenho
São veios frutos do empenho
E amor de muitos enredos.
À minha esposa Márcia e Lúcio, nosso filho, por seus cabelos lisos e loiros.
A imagem do topo é "Mãe com seus filhos" de François Laubnitz.