Num instante, nós somos plantados
Mesmo indesejados,
Brotamos num ventre, sem nada saber.
Por um tempo, então, germinamos,
Mesmo inesperados,
Até sobre a terra folhagens pender.
Muda enfim, abundância em pestes,
C’o tempo por cúmplice, ferem a gente…
E os granjeiros, à sua maneira,
Protegem, da praga, o rebento carente
***
Pouco a pouco, na chuva aprendemos,
Na dor ou no agrado,
Reconhecer a poda e o adubo a incutir
Nossas folhas, ao Sol estendemos;
De caule delgado,
Ansiamos por ir, ver, ter, ser e sentir!
Pasmos ceifeiros, perante a sede,
Sondam suas mudas por possibilidades…
Sem maldade, futuros lhe enxertam,
Mas misto a tais sonhos há mil vaidades
***
Subitamente, mostram-se frutos,
Folhagens viçosas,
Mas nem toda planta parece que os têm…
Nossa seiva nos parece estranha,
E as cepas rugosas,
É como se fôssemos um outro alguém
Misto ao suco, há sonhos e medos
E há plantas que sofrem por podas passadas,
Pois há muitos colonos ingênuos
Descrentes da muda que fora plantada…
***
Então, finalmente: árvore adulta!
Pomar, sol e vento;
Húmus e luz tal qual seus fossem apenas
Liberdade e potência lhe acuam;
Poréns em tormentos…
Como ages na estiagem? Ao Sol tu condenas!
‘Té que agricultor tu mesmo o sejas;
A metamorfose que a vida ainda traz…
Afeto, coragem, paciência:
‘Inda que os careças, às mudas darás?
Inspirado na contemplação de meus terceiranistas silenciosos, compenetrados e cansados, fazendo uma prova. de Química.